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Conde diz que Mambas não foram equipa para evitar humilhação e qualificação ao CAN-2023 depende da estrutura

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O Seleccionador Nacional de Futebol, Chiquinho Conde, considerou de humilhante e vergonhoso a goleada por 5-1 infringida pelo Senegal no jogo da terceira jornada do Grupo L de Qualificação ao CAN-2023. Conde nega ter havido falta de compromisso por parte dos seus pupilos que estiveram apáticos, ou de qualquer tipo de reivindicação protagonizada pelos Mambas para tão apática prestação, nove meses depois de ter vencido o Benin e empatado com o Ruanda, resultados que colocam Moçambique na segunda posição do grupo. O timoneiro da equipa de todos nós queixa-se da falta de um elemento na sua equipa técnica que possa lidar com o ‘scouting’ dos jogadores selecionáveis, recusa-se a falar sobre o ambiente na selecção e da relação com a Federação Moçambicana de Futebol após o imbróglio da Argélia, mas diz que a qualificação para a prova da Costa do Marfim depende de como toda a estrutura vai abordar os jogos que se seguem.

 

Por Alfredo Júnior, em Dakar

 

Visivelmente triste com o resultado e sobretudo com a prestação dos seus jogadores, foi como Chiquinho Conde se apresentou aos jornalistas que acompanharam os Mambas nesta deslocação à capital senegalesa, mas o Seleccionador Nacional manteve a calma e serenidade na abordagem das incidências do jogo, levantando a ponta do véu sobre algumas situações que têm dificultado o bom desempenho da equipa de todos nós.

 

Qual é a análise que faz da prestação dos Mambas neste jogo com o Senegal em que Moçambique saiu goleado e humilhado por 5-1?

 

“Quando se perde por 5-1 é sempre difícil encontrar coisas positivas, acho que entramos muito mal no jogo, faltou completamente uma atitude competitiva para encarar este poderoso Senegal a jogar em casa, motivado e não há muito para poder explicar, acho que a atitude competitiva não esteve presente. Quando se começa a sofrer golos atrás de golos a equipa intranquiliza-se e os jogadores começam a ter atitudes individuais a querer resolver o jogo. Hoje não fomos uma verdadeira equipa e isso notou-se principalmente na primeira parte, na segunda tentamos juntar a todos e as coisas melhoraram ligeiramente. Apeteceu-me chegar ao intervalo e fazer as cinco substituições, mas há um respeito que merecem todos jogadores da selecção nacional, dar o benefício da dúvida para que mudassem a sua atitude e viu-se que entramos bem na segunda parte conseguimos marcar o golo, tentamos refrescar a equipa mais não houve muita alteração naquilo que eram as nossas ideias”.

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Há muito tempo que Moçambique não perdia por números tão expressivos...

 

É verdade...é sempre humilhante perder por esses números, somos a selecção nacional, somos os Mambas e sei da qualidade dos jogadores que nós temos e todos nós estamos envergonhados pelo facto de termos perdido por 5-1.  Mas são coisas que acontecem no futebol, sobretudo quando abordamos mal o jogo.

FALTA DE ELEMENTO DE SCOUTING DIFICULTA O TRABALHO

 

Ao longo do jogo os Mambas foram muito apáticos, faltou alegria como apregoa para as suas equipas, não houve ligação entre os sectores. O que falhou na estratégia traçada para esta partida?

 

Já passaram nove meses em relação a última vez que nós jogamos na dupla jornada com o Ruanda e Benin e já passou muita coisa, muita coisa alterou, os jogadores vieram inicialmente com muita disponibilidade e nós não tivemos tempo para poder treinar e resgatar aquilo que são as nossas ideias. Em nove meses muita coisa muda, infelizmente não temos elementos na equipa técnica para fazer o ‘scouting’, para ver a que nível competitivo os jogadores se encontram, a sua motivação para esses desafios e isso paga-se caro.

 

Neste jogo com o Senegal notou-se uma equipa sem motivação, sobretudo na primeira parte. Como se explica essa situação?

 

Faltou tudo como disse, também faltou motivação, isso tem haver com a atitude competitiva que a equipa não teve e digo sempre que uma equipa alegre tem tendência a ganhar mais vezes, obviamente que a equipa não estava alegre, é difícil saber o que se passou, pois passavam nove meses que não estávamos juntos.

 

CONDE NÃO ABORDA INCIDENTES DE ARGEL

 

A que se deve a falta de alegria?

 

Vocês estão connosco aqui desde o início desta campanha para o duplo confronto com o Senegal e devem ter se apercebido de alguma coisa, quero acreditar que foi um momento menos bom da equipa.

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As reclamações e queixas da equipa começaram no primeiro treino em Dakar, em relação ao estado do piso e da qualidade e localização da hospedagem. Terão sido esses problemas?

 

Não vou falar sobre isso, já se falou bastante sobre esses temas que não vou abordá-los mais.

 

Será o efeito de algum resquício do que aconteceu recentemente na Argélia?

 

Não vou falar sobre esse assunto...

 

No treino de quarta-feira, em Dakar, disse que “muda-se o disco e continua a tocar a mesma música”. A fraca prestação terá alguma relação com essa situação?

 

“Eu não vou falar sobre estes temas que já foram abordados anteriormente”.

 

GION FOI NATURALIZADO PARA JOGAR

Olhando para 11 escalado para a partida, será que não foi arriscado de mais colocar o jovem Gion Chande a titular na baliza?

 

Não de todo, o Gion Chande foi convocado, então naturalizaram o jogador para quê? Não era para estar na selecção nacional? Ele tem experiência, já jogou na Suiça, já jogou na Liga Conference da UEFA no ano passado, a Federação naturalizou-o e obviamente está disponível. O Gion Chand não foi o principal culpado desta goleada, ele é jovem naquela posição ingrata, mas o futebol é isso, é o momento...Não tivemos a oportunidade de na Data FIFA observar os jogadores, a Federação não quis, como é que vou observar os jogadores para saber do seu real estado?

 

Falando de ‘scouting’, alinhou alguns jogadores sem ritmo, alguns há mais de três meses sem jogar regularmente, como explica a utilização destes jogadores?

 

São jogadores do grupo da selecção nacional, são habituais no grupo. Temos um leque de 35 jogadores que fizeram parte da minha pré-convocatória...mas note que o Moçambola não começou, o CHAN já terminou há mais de um mês, se o Chiquinho tivesse trazido todo grupo do CHAN o que é que haveriam de lhe dizer? Os jogadores que alinharam são da selecção nacional e como tal tenho que confiar plenamente nas suas capacidades, agora obviamente é fácil falar, mas só observei um único treino para saber como é que eles estão, se não há uma equipa de ‘scouting’...as coisas tornam-se difíceis.

 

Será que se nota que há compromisso por parte de certos jogadores quando chegam a selecção?

 

Os jogadores têm que ser respeitados, nunca e jamais iria dizer que os jogadores não tiveram compromisso, isto é a selecção nacional de Moçambique e sempre disse que há valores muito mais altos em termos desportivos que chama-se Mambas que respeito, eu respeito os jogadores, respeito os moçambicanos que nesta altura estão a sofrer  com este resultado não era o que pretendíamos inicialmente, mas resultados menos bons acontecem e agora é preciso ter serenidade, ver o que é que não correu bem e para depois tentarmos retificar o que vai ser muito difícil.

 

QUALIFICAÇÃO NÃO ESTÁ PERDIDA

 

Como é que se recupera esta equipa para o jogo de terça-feira, 28 de Março, com o mesmo adversário?

 

Se calhar o Senegal vai chegar a Moçambique primeiro do que nós. Vamos avaliar a condição dos jogadores, se há algumas lesões que podem condicionar a sua prestação, alguns jogadores terão que estar com as suas famílias porque é importante depois de uma derrota destas, é preciso sentir conforto da família para que aumentem as energias positivas, faremos um treino de recuperação na segunda-feira para jogar no dia 28.

 

Moçambique saiu humilhado e fomos goleados, mas a campanha ainda não está perdida. Como olha para as perspectivas da selecção nesta fase de qualificação?

 

A campanha de certeza que ainda não está perdida, mas se nós continuarmos com essa atitude e apáticos iremos certamente perder esta grande oportunidade de nos podermos qualificar. Estamos em segundo com quatro pontos e os nossos adversários diretos estão atrasados na corrida. Tudo depende de nós moçambicanos para conseguirmos a tão almejada qualificação que nos foge há mais de dez anos. Até agora temos quatro pontos e vamos ver o que acontece até lá. Para já, vamos concentrar as nossas forças naquilo que nós controlamos, para ver se conseguimos recuperar estes jogadores para que estejam com ânimo e possam alterar o cenário verificado e. Dakar. Esta profissão é única que dá o privilégio de alterar tudo aquilo que de mau acontece, hoje todo mundo fala desse resultado negativo e podemos inverter isto rapidamente no dia 28 se as coisas alterarem. O futebol é o momento, o treinador é sempre o culpado pelos maus resultados, por isso tenho que dar o corpo ao manifesto porque a estratégia foi minha, os jogadores foram por mim convocados e em função a isso o Chiquinho Conde é o culpado.

 

INSPIRAÇÃO NA RESILIÊNCIA DOS MOÇAMBICANOS PARA DAR A VOLTA

 

A apatia que se refere é apenas dos jogadores em campo ou de toda estrutura organizativa em volta da selecção?

 

Quando falo da atitude refiro-me a toda estrutura administrativa e a do campo, passa fundamentalmente por isso, a selecção nacional não é Chiquinho Conde, do António ou do Francisco, é de 30 milhões de moçambicanos. É preciso ter respeito pelos moçambicanos, nós vivemos dessa profissão e tudo fazemos para dignificar e honrar a bandeira. Hoje as coisas não correram bem, não quero acreditar que os jogadores não quisessem correr mais, apenas não puderam por questões desportivas, há uns que estão sem ritmo por exemplo, mas poderão dizer como Chiquinho os utilizou, mas não se esqueçam que não tenho uma equipa de ‘scouting’, se eu quiser observar um jogador até na Beira não há dinheiro para ir para lá, quanto mais para Alemanha, Albânia, Madeira ou Finlândia.

 

Que palavras tem a dizer para os adeptos dos Mambas que certamente na terça-feira quererão se deslocar ao Zimpeto?

 

“Infelizmente nós estamos a atravessar momentos difíceis socialmente e o futebol é o ópio do povo, tenho essa plena consciência, tento transmitir todos dias esse sentimento aos meus jogadores e eles também tudo fazem para minimizar o sofrimento do povo. O nosso futebol evolui à semelhança da sociedade e como tal gosto de falar de resiliência, o povo moçambicano é extremamente resiliente e nós temos que pegar nessa resiliência e fortificá-la e para mim isso significa que nós devemos adaptarmo-nos ao mundo e não o mundo adaptar-se a nós, mas iremos fazer de tudo para que de facto possamos contrariar esta equipa poderosa do Senegal e quiçá conseguirmos um bom resultado para minimizarmos o sofrimento do povo moçambicano que gosta imenso de futebol e nós somos elementos fundamentais para isso”. (LANCEMZ)

 

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